Está sendo noticiada em todos os jornais, impressos ou televisivos. Haverá aqui, mas não sabemos em quais condições. A Copa Mundial de Futebol. É disso que estou falando.
É do conhecimento de todos que a próxima Copa Mundial de Futebol se realizará no Brasil, no ano de 2014, e tenho visto e ouvido em diversos lugares críticas ferozes ao governo por aceitar tal monumental evento em nossa pátria. Os argumentos dos quais bebem essas críticas, a primeira vista, tem um fundo humanitário incontestável e um julgamento em prol da justiça social inequívoco, questionando porque os milhões (ou bilhões, deveria eu dizer) de reais investidos nesse evento não poderiam ser diretamente aplicados em educação, combate a pobreza e segurança pública, por exemplo. No entanto toda essa crítica se faz de maneira superficial, sem olhos no futuro e em um planejamento pautado em investimentos que poderão satisfazer a sede por um país melhor de maneira mais eficiente.
Primeiramente, deve-se dizer algo óbvio (não aos olhos de todos, aparentemente): todas as obras construídas para atender a demanda de público e evento da Copa continuarão a existir no mesmo tempo-espaço em que nós. Não só estádios, mas aeroportos, rodovias e estradas, edifícios administrativos, extensão de redes hidráulicas e de eletricidade, em resumo, uma considerável infra-estrutura urbana tem por projeto o objetivo ser instalada em nosso país, fato este que pode beneficiar milhões de pessoas, direta ou indiretamente, com oportunidades de emprego, melhoria de acesso as mais diversas partes das cidades, atendimento de água e esgoto a lugares que, vergonhosamente, antes não dispunham destes recursos e tantos outros elementos de bem público. Mas tudo depende da maneira como será administrada toda essa infra-estrutura após a Copa e, mais importante, o projeto com as premissas facilitadoras dessa mesma administração e de sua construção e utilização. Existem cidades exemplares para as quais se deve olhar e compreender em quais proporções um evento como este pode modificar uma região, como Barcelona após a Olimpíada realizada em seus domínios, desenvolvendo sua área portuária, vias de trânsito e sistemas de acesso, saneamento e moradia. Barcelona, por sua vez, pode ser contrastada com Atenas, a qual, com as obras realizadas para sua Olimpíada, causou entupimento de suas vias e desenvolvimento social praticamente nulo, não aproveitando a oportunidade que lhe foi dada. Sendo assim, pode-se concluir que os resultados pós-evento se originam em um cuidadoso planejamento pautado nas mais diversas áreas sociais e suas estruturas. Além disso, o governo não teria como investir esse grande orçamento de que se propôs a colocar na realização da Copa diretamente em projetos sociais, pois isso acarretaria um grande rombo nos cofres do Planalto, sem retorno financeiro suficiente para evitar um colapso nos próprios setores agraciados com o investimento.
Todavia, a estrutura própria do evento deve ser executada para tais metas serem atingidas. Indo em contradição com essa perspectiva, diversas notícias chegam a nós relatando atrasos, falta de comprometimento com as obras e planejamento mal feito, tanto para execução como para usos futuros. Temos como exemplo os estádios planejados para Manaus e Cuiabá, os quais, segundo diversas previsões, não terão condições de gerar renda suficiente sequer para sua manutenção após a Copa. Os aeroportos e suas reformas, estritamente necessários para o recebimento da grande carga de turistas e delegações esportivas estrangeiras, que também enriqueceriam grandemente as estruturas aeroviárias do país, não estão recebendo os devidos recursos prometidos pelo governo. Pra não falar da ridícula ideia (eu disse ‘corrupção’?) de investir em um estádio na cidade de São Paulo com obras ainda não iniciadas e de acesso estupidamente complicado ao invés de olhar para um outro que necessita apenas de algumas adaptações e dispõe de um acesso muito menos complexo de se resolver.
Essa situação está chegando a um ponto em que logo a entrega de tais obras a iniciativa privada será fortemente cogitada. Confesso que essa ideia definitivamente não me agrada, pois penso que um Estado forte, dotado, obviamente, de princípios sociais e humanitários, é o início da solução para os problemas encontrados dentro de nossas fronteiras, mas, após o comprometimento com um evento de tais proporções e a ineficiência de se cumprir tais premissas, talvez essa seja a solução mais eficaz. Isso, é claro, se a oitava maior economia do planeta não quiser passar vergonha diante do mundo inteiro. E vergonha aqui não se entenda como um sentimento de reprovação ou infelicidade da população, mas como uma afetação considerável nas finanças públicas e, aí sim, um grave efeito colateral na sociedade como um todo.
Gustavo de Campos
Beem Gus, falou bem: A Copa poderá trazer melhorias em geral para a população, mas tudo depende da administração.
ResponderExcluirEu, particularmente, gostaria que acontecessem os dois: Que houvessem melhorias na qualidade de vida do povo e que nós, o Brasil, pagássemos o maior mico e não pudéssemos concretizar uma Copa bem feita. Desculpe, mas essa conversa de "País do Futebol" apenas nos coloca num tremendo salto alto e não vemos que não somos isso coisa nenhuma. muitas vezes, as desgraças provêm melhorias.