sábado, 7 de maio de 2011

Recado ao Senhor do 903

      Pessoal, demorei mas achei esta crônica. Não terei a ousadia de fazer qualquer tipo de análise, não precisa. Apenas leiam e reflitam, vale a pena:


Vizinho -

Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoalmente - Devia ser meia noite - e sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou toda razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno, e é impossível dormir no 903 quando há vozes, passos e música no 1003. Ou melhor, é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita: pois como não sei o seu nome, e o senhor não sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números, empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1013 e embaixo pelo 903 - que é o senhor, todos esses números são comportados e silenciosos, apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis: nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vir à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8: 15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 da outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda o outro número, mas o respeita ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e lhe prometo silêncio.
Mas que me seja permitido sonhar com outras vidas e outros mundos, em que um homem batesse à porta de outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã. e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse “Entra vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”.
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.
(Rubem Braga)

João Cianelli

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Questão do Povo Mapuche.

Mais uma minoria que luta para não ser subjugada pelas investidas do estado e do capital. Um relato sobre a luta dos Mapuches, que jamais aceitaram ser dominados, que tem enfrentado seus inimigos com bravura, desde os Incas, passando pelos Espanhóis, até o estado Chileno nos dias de hoje.
A História de um povo aguerrido, que não se entregou e que não se entregará jamais.


Um trabalho realizado pelo Grupo Avalanche Missões Urbanas.



Abraço galera, boa reflexão.



Marco Aurélio

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Auto da Barca e o da Compadecida


Um auto é uma obra de profundo caráter reflexivo que, muitas vezes, entretém o público com uma face cômica e divertida. No entanto, por trás de tudo isso, há sérios valores morais em questão.
Ao fazermos esta breve consideração, colocando de um lado O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente e do outro O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, com adaptação para os cinemas por Guel Arraes, podemos sentir de forma rápida as semelhanças e comparações entre ambos pululando em nossas mentes.
De imediato, claro, temos a questão do julgamento: Na obra de Gil Vicente o inferno é retratado por senão o próprio diabo em sua embarcação, enquanto o céu é representado por um anjo ao comando da barca celestial. Na adaptação de Guel Arraes, temos novamente o próprio demônio convidando os recém-chegados que partam com ele em direção às profundezas, porém a figura do lado divino é Jesus Cristo, que funciona até mesmo como uma espécie de juiz.
Em ambos os casos, grande parte dos “réus”, por assim dizer, julgam-se dignos de fazer a viagem rumo ao plano celeste, contudo, em o Auto da Barca do Inferno, a maioria não consegue evitar o eterno castigo. Já em O Auto da Compadecida, Maria, a mãe de Jesus, também chamada de Nossa Senhora, acaba intervindo pelas almas, tornando-se então a defensora deles. Ótima defensora por sinal, pois acaba – com seus argumentos – salvando todos do fogo eterno, conseguindo-lhes um lugar no purgatório, com exceção da personagem João Grilo, que retorna à sua vida enquanto ser humano aqui na terra.
Dos dois lados temos obras com certo cunho medieval (pois é!), lembrando, é claro, que Gil Vicente é séculos anterior a Ariano Suassuna ou Guel Arraes.
O lado mais interessante das obras é, de fato, a crítica social. Em o Auto da Barca do Inferno essa crítica não é explícita, fica atrás de certo caráter cômico. Em O Auto da Compadecida também, porém a grande diferença é que, ao final da adaptação de Guel Arraes, todos os que estão prestes a morrer, confessam seus pecados e deixam bem claro o lado imoral da situação, cabendo ao espectador apenas associar o fatos à vida cotidiana do ser humano.
            Tocando na questão da vida cotidiana do ser humano, é impressionante o poder reflexivo e crítico do Auto – desde que este seja bem elaborado. Infelizmente, nem todos compreendem o que se passa por trás da temática religiosa ou profana, satírica ou não. Alguns acreditam de fato, que o Auto da Barca do Inferno refere-se simplesmente a dois barcos com destinos opostos, e só! A partir de então, levantado este problema e, trazendo-o para o campo dos estudos, ou mais diretamente, para a sala de aula, percebemos que o trabalho com os Autos, como objeto de questionamento dos valores morais e do comportamento da sociedade, como a natural reflexão acerca deles é de suma importância na vida da literatura e do próprio ser humano. A forma com a qual o Auto aborda a Ética – o questionamento da moral – é surpreendente. Excelente meio de fazer pessoas pensarem a respeito da sociedade e da situação na qual vivem, bem como as vidas que levam – ou deixam levar. Poderosa ferramenta para, como diz Jostein Gaarden em “O Mundo de Sofia”, tentar “fazer as pessoas subirem para a ponta dos pelos do coelho, o grande coelho”.

João Cianelli

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Hasta Siempre Commandante

Desculpem-me pessoal pelo atraso com a postagem. Tive uns contratempos.

De qualquer modo, deixo vocês com uma música muito bacana interpretada pelos senhores do Buena Vista Social Club.



Abraços!



Marco Aurélio